sexta-feira, 10 de março de 2023

Não sabem governar sua cozinha e podem governar o mundo inteiro.

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
-
Gregório de Matos 


De bike, ônibus, a pé, no mototaxi, no taxi, no carro de aplicativo, no taxi amigo, eu já atravessei essa cidade e a conheço em muitas nuances, do colorido por do sol do conjunto ceara á exuberância da lagoa da Maraponga, das ruas da aerolanida ás praças do canidezinho. 

E por amar tanto esta cidade tenho me irritado sobremaneira com o atual prefeito e seu parceiro, não que as gestões anteriores não tivessem em alguns momentos me causado sentimentos adversos, mas esta agora tem superado todos os níveis da paciência que qualquer morador daqui possa ter. 

eu vi o entorno da lagoa do meu bairro ser destruído pela especulação imobiliária, agora colocar uma cerca na lagoa é de um estupidez desmedida. a praia, para onde a maior parte estúpida dos ricos resolveram se mudar, tem se tornado tão feia e sem personalidade como qualquer shopping center. o centro espera eternamente o dia em que sua tão prometida revitalização chegue, e , se for pensar bem, que revitalização pra essa galera é gentrificação  e violência com as pessoas em situação de rua, talvez seja até bom que não revitalizem mesmo. 

soma-se a isto tudo todas as tentativas de coibir a ocupação criativa das praças e vias que fazem as juventudes e artistas dessa cidade. 

parece que aqui ou na Bahia, o senhor Gregória de Matos ainda se encontra atual:

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Não entres nessa noite acolhedora com doçura - Dylan Thomas

Não entres nessa noite acolhedora com doçura

Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Pois a velhice deveria arder e delirar ao fim do dia;
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

Embora os sábios, ao morrer, saibam que a treva lhes perdura,
Porque suas palavras não garfaram a centelha esguia,
Eles não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os bons que, após o último aceno, choram pela alvura
Com que seus frágeis atos bailariam numa verde baía
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

Os loucos que abraçaram e louvaram o sol na etérea altura
E aprendem, tarde demais, como o afligiram em sua travessia
Não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os graves, em seu fim, ao ver com um olhar que os transfigura
Quanto a retina cega, qual fugaz meteoro, se alegraria,
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

E a ti, meu pai, te imploro agora, lá na cúpula obscura,
Que me abençoes e maldigas com a tua lágrima bravia.
Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

                                Dylan Thomas 


hoje escrevi 7 vezes uma mensagem e a apaguei, arrependendo-me de enviar antes mesmo do envio. acabei não mandando a bendita mensagem, e para um ariano igual a mim, comedimento nunca foi meu talento, talvez esteja ficando velho e aprendendo a medir as coisas, calculando se a energia do querer resulta em alegria ou em desapontamento. 

acho melhor entrar nesta madrugada nada acolhedora com doçura... 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Cravo e extraio estrelas nuas de tuas constelações cruas

 Cavo e extraio estrelas nuas

De tuas constelações cruas

Abre-te, Sésamo

Brado ladrão de Bagdá
-
Waly Salomão



ter ideias de escrever livros é bem mais divertido do que realmente escreve-los, escrever tem muitas implicações e muitas delas não são nada positivas, se pensarmos bem, assim como no futebol, é preciso muitos jogadores de várzea para um atleta de ponta, que tira ouro de sua arte, fazendo de todas as consequências da exposição aturáveis, contornáveis.

hoje, particularmente, recordava todos os poemas que escrevi que já me causaram problemas, pode ter certeza, foram alguns, um número considerável para algo aparentemente tão inofensivo. esses poemas  foram motivos pra nunca ter colocado pra frente um livro que tive a ideia de fazer sobre as relações livres. pueril. 

seria tão bom se a nossas ideias resistissem tanto quanto resistem nossos problemas, talvez eu continuassem achando interessante as que tive e passasse a realizar pelo menos uma parte delas, 

o que já seria muito.

ps: estou lendo Sophia de Mello Breyner, talvez volte a postar as minhas pequenas resenhas de livros de poemas por aqui, o propósito original deste blog. 



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff

"e nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff"
Manuel Bandeira 



reparei que os espaços de escrever tem diminuído, na internet e na minha vida. teve um tempo que eu ainda contava com os textões de Facebook, algo que me rendia muitas curtidas e compartilhamento, proporcionando à minha escrita uma serventia imediata, um poder de comunicação instantânea prometida pelos gênios do vale da morte do silício. 

ao que tudo indica a promessa tinha um prazo de validade.

isso não chega a ser uma dor total, quando inventei de entrar no mundo dos blogs, e esse é apenas um dos vários que criei para um fim totalmente diferente do qual estou fazendo uso agora, tinha meus 17 anos. 

ser lido, entendido, era mais do que urgente, era um sonho. agora, quando muito, parece-me um luxo. 

espero que nenhum jovem escritor leia isso e desanime, temos a mania absurda de querer destruir os sonhos adolescentes com nossas frustrações adultas, 

espero que isto não soe assim, 

até mesmo porquê, no finzinho das contas, a única coisa que tenho de verdade é a minha capacidade de escrever meus textos e poemas e lembrar dos textos e poemas dos outros, que vez em sempre recito mentalmente pra mim mesmo. 

é nessa corda que tenho conseguido me agarrar à vida.  

domingo, 19 de agosto de 2012

#6 - Calabar: Traição ou Poesia




Conheci a história de Calabar, quando li a peça de Chico Buarque, depois em uma aula de história que gerou um grande debate sobre a eterna questão: Calabar era ou não era um traidor? Pessoalmente, acredito que não era, pois não existe traição quando não se tem o ser traído e naquela época o Brasil ainda era uma lenda, ( desconfio muitas vezes que continua sendo)
Polêmicas à parte, o Livro de Lêdo Ivo, que trás como poema Principal o Épico Calabar, que nomeia o livro, é um bom poema, o livro é um bom livro, mas não me comoveu  e ponto final.
Detalhes Técnicos

·                     Posição: #6/100
·                     Título:Calabar
·                     Autor:Lêdo Ivo
·                     Páginas : 133
·                     Editora: Editora Record, Rio de Janeiro, 1985
·                     Onde Adquiri: Livro do Acervo do Templo da Poesia.


Sobre o Autor:
Talles Azigon
Talles Azigon é Poeta, Contador de Histórias, Produtor Cultural, Estudante de Letras e Apaixonado pela Poesia. Blogueiro, já escreveu para vários blogs , inclusive o dele  http://tallesazigon.blogspot.com .

segunda-feira, 16 de julho de 2012

#5 Menino do Mato - Sustentando com palavras o silêncio do abandono de Manoel de Barros



    Quem sabe, um dia, eu evolua para árvore, aprenda a falar azul e deixe de significar. Assim, quem sabe, ganharia o privilégio do abandono e aprenderia a falar a  Linguagem das águas, como o Bernardo, Menino do Mato, que existe no quintal da imaginação de Manoel de Barros. Existe, apenas existe, sem precisar significar. ( Como essa postagem, assim como borboletas comem as tardes,
não é de expulsar o tédio?(


Detalhes Técnicos

·                     Posição: #5/100
·                     Título: Menino do Mato
·                     Autor: Manoel de Barros
·                     Páginas : 95
·                     Editora: Editora Leya, São Paulo– RS 2010
·                     Onde Adquiri: Livro do Acervo do Templo da Poesia.

Poemas e Trechos que mais gostei.

“(Eis um caso que há de pergunta: é preciso estudar
igorâncias para falar com as águas?)

2
Invento pra me conhecer


4
Escrever o que não acontece é tarefa da poesia


13
Eu sempre guardei nas palavras os meus desconcertos


14
Eu sustento com palavras o silêncio do meu abandono


19


Qando meu Vô morreu caiu em silêncio
concreto sobre nós.
Era ma barra de silêncio!
Eu perguntei então ao meu pai:
Pai, quando o Vô morreu a solidão ficou destampada?
Solidão destampada?
Como um pedaço de mosca no chão.
Não é uma solidão destampada?
 
Sobre o Autor:
Talles Azigon
Talles Azigon é Poeta, Contador de Histórias, Produtor Cultural, Estudante de Letras e Apaixonado pela Poesia. Blogueiro, já escreveu para vários blogs , inclusive o dele  http://tallesazigon.blogspot.com .

quinta-feira, 12 de julho de 2012

#4 - Elegias de Duíno. ( Porque todo Anjo é Terrível)



Existem Poemas, existem livros de poemas, que necessitam ser lido com a voz alta do silêncio, Baudelaire exigiu, em alguns momentos, toda a voz do meu silêncio para que sua poesia fosse digerida pela minha alma. Já Rilke e suas Elegias precisam ser lidas com todo o “Eu” ator que existe dentro de nós. Suas Elegias precisam ser proclamadas, às vezes aos berros, às vezes aos sussurros, para que os Anjos escutem, Todo Anjo é terrível, todo anjo é o profano e o sagrado, o solitário e o social, o sensível e o racional, que existem dentro de nós.
É para esses Anjos que o Livro de Rilke é Escrito, é para esses Anjos que o livro de Rainer Maria Rilke é Dito.

Detalhes Técnicos

·                     Posição: #4/100
·                     Título: Elegias de Duíno 
·                     Autor: Rainer Maria Rilke ( Tradução Dora Ferreira da Silva)
·                     Páginas : 95 ( Elegias mais comentários da Tradutora )
·                     Editora: Editora Globo, Porto Alegre – RS 1979
·                     Onde Adquiri: Livro do Acervo do Templo da Poesia.

Poemas e Trechos que mais gostei.

“Estranho, não desejar mais os nossos desejos. Estranho,
ver no espaço tudo quanto se encadeava, esvoaçar, deligado,”
( da Primeira Elegia)

Amantes, sois vós ainda?
Quando um no outro pousais os vossos
Lábios, como taças, oh, como se evade
Então, estranhamente, o embriagado.
(da segunda elegia)

Nós só vemos morte!
( da oitava elegia)

Estamos aqui talvez para dizer: casa,
Ponte, árvore, porta, cântaro, fonte, janela –
E ainda: coluna, torre... Mas para dizer, compreenda,
Para dizer as coisas como elas mesmas jamais
Pensaram ser intimamente.
( da nona elegia)

Sobre o Autor:
Talles Azigon
Talles Azigon é Poeta, Contador de Histórias, Produtor Cultural, Estudante de Letras e Apaixonado pela Poesia. Blogueiro, já escreveu para vários blogs , inclusive o dele  http://tallesazigon.blogspot.com .